Outro mundo possível já está acontecendo
* Antonia Félix
* Antonia Félix
Em maio de 2006 estava na Bolívia quando o Estado recupera a propriedade dos hidrocarbonetos. O presidente Evo Morales frente às câmeras de todo o mundo afirmava não ser justo que recursos naturais pertencentes ao povo boliviano continuassem sendo vendido a preços irrisórios para outros países, enquanto muitas pessoas viviam em condições miseráveis. Por isso esperava a compreensão dos parceiros.
No Brasil, enquanto alguns setores sociais exigiam atitudes mais agressivas do governo, frente à decisão boliviana o presidente Lula com sua sensibilidade afirmava que defendia o cumprimento dos contratos entre Brasil e Bolívia, mas compreendia que não podia interessar aos/as brasileiros/as usufruir dos recursos naturais de um povo irmão em troca do sacrifício de muitas pessoas.
Em maio de 2009, por coincidência, estou novamente na Bolívia quando o Estado institui um bônus beneficiando mães gestantes e crianças até 02 anos de idade. Beneficio universal de 1.800,00 bolivianos para incentivar a queda das taxas de mortalidade infantomaterna, complementando outras que beneficiam pessoas com mais de 60 anos e crianças em idade escolar.
Era dia das mães. No lançamento do bônus, o presidente Evo afirmava que estas ações só eram possíveis graças aos recursos da nacionalização do gás e dava exemplos do abandono que ele mesmo experimentara: “éramos 07 irmãos. Apenas 03 sobreviveram, mais de 50% morreu quando criança. Agora é tempo de reparar injustiças”. Emocionei-me. Mães humildes chamavam o presidente de irmão. Elas são na maioria também indígenas e sentiam-se reconhecidas pelo Estado, em seu direito mais sagrado: viver.
Fiquei feliz por ser brasileira e pelo presidente Lula compreender que precisamos de combustível sim, mas as riquezas naturais de uma nação primeiro devem servir para reparar históricas desigualdades sociais.
* Texto enviado por Antonia Félix (primeira na foto), coordenadora de educação do campo do Projeto Dom Heldér Câmara/SDT/MDA-FIDA/ONU
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