O Rio Upanema reforça que conceito de natureza não é natural
* Caramurú
O debate aberto sobre a salvação do Rio Upanema me fez sugerir o livro ‘Os (des)caminhos do meio ambiente’, de Walter P. Gonçalves. Na obra, o autor destaca que o conceito de natureza é uma criação social que dá base para o conceito de desenvolvimento de uma sociedade tornando-se responsável pelos avanços e problemas gerados.
Gonçalves cita exemplos de como as expressões populares trata de maneira depreciativa a natureza. A mulher piranha, o homem cachorro, a pessoa burra, etc. Estas expressões vão criando um tipo de antropocentrismo fatalista na qual o homem sente-se sujeito e entende a natureza como objeto. Entretanto, termina sofrendo efeitos da própria ação.
O livro ainda busca a razão da mudança de relação homem-natureza. Numa linha do tempo se remonta a idéia que a sociedade européia criou a maquinofatura, ou seja, idéia pela qual a razão técnica é única. Esta lógica consolidou o capitalismo como forma de produção em escala cujos papeis dos trabalhadores, a partir das entradas das máquinas no esquema de produção, passou a ser fragmentados e alienados. Daí o taylorismo. O modelo exige a disponibilidade permanente de energia e, portanto, um grande domínio sobre a natureza. Neste caso, segundo o autor, a técnica passa a sobrepor a sociedade, quando deveria ser o inverso.
Outra abordagem importante da obra, é que o autor aprofunda a questão da importância do conceito de natureza como conceito-chave em cada cultura. Destaca que na sociedade ocidental desloca o homem do conceito de natureza, passando esta a ser representada por tudo que é inferior ou selvagem, capaz de ser dominada. O perfil dela é branca, européia, machista e burguesa. Estes conceitos tornam naturais as práticas de dominação que se complementa nos casos não resolvidos, os europeus trataram os choques culturais com a escravidão.
Finalmente, num capítulo chamado ecologia, liberdade e igualdade: autonomia; o autor foca o momento atual como de crise em todas as dimensões: econômica, jurídica-política, de valores, normas e culturas. A contradição que gera a cria, segundo o texto, tem origem na falência da perspectiva que os iluministas faziam da razão emancipadora. Em nome da razão ideológica, se oprime e devasta. Portanto, conclui que a razão se perde nas múltiplas dimensões compreendidas a partir da construção-chave do conceito de natureza.
A alternativa proposta pelo autor, a ecologia, propõe mudanças no campo do saber, buscando a integração do viés interdisciplinar com as normas e valores; e o estético cultural. Desta forma passa pela democracia e a política. O autor enfoca que a transformação não pode ser dada apenas pela ciência e a tecnologia têm que refazer as sociedades, os homens e a o conceito de natureza. Para Gonçalves é preciso criar a igualdade no respeito à diversidade.
Diante das posições se observa um olhar da crise ambiental por um viés da construção histórica, social e cultural. Este enfoque sugere uma saída por dentro do mundo da ciência, alargando-o para interdisciplinaridade e o diálogo com a sabedoria popular que está fora dos muros das universidades. Esta perspectiva parece razoável quando consideradas as soluções apresentadas muito mais como novos paradigmas do que propriamente o apontamento de saídas para o quadro caótico que é descrito.
Portanto, se avançar das premissas para a realidade concreta é possível encontrar diversas experiências bem sucedidas que fazem o caminho inverso, corroborando para superação da crise atual por meio de experiências ambientalmente sustentáveis, economicamente viáveis e socialmente justas. Estão espalhadas por todo Brasil, realizadas geralmente por grupos e até em redes que certamente podem dá consistência às novas idéias que se por um lado renovam o campo das idéias por outro não avançam nas buscas e nos exercícios das soluções.
Em suma, sugiro que os interessados e interessadas no debate do Rio Upanema e noutras questões ambientais leiam esta preciosa obra.
* Caramurú
O debate aberto sobre a salvação do Rio Upanema me fez sugerir o livro ‘Os (des)caminhos do meio ambiente’, de Walter P. Gonçalves. Na obra, o autor destaca que o conceito de natureza é uma criação social que dá base para o conceito de desenvolvimento de uma sociedade tornando-se responsável pelos avanços e problemas gerados.
Gonçalves cita exemplos de como as expressões populares trata de maneira depreciativa a natureza. A mulher piranha, o homem cachorro, a pessoa burra, etc. Estas expressões vão criando um tipo de antropocentrismo fatalista na qual o homem sente-se sujeito e entende a natureza como objeto. Entretanto, termina sofrendo efeitos da própria ação.
O livro ainda busca a razão da mudança de relação homem-natureza. Numa linha do tempo se remonta a idéia que a sociedade européia criou a maquinofatura, ou seja, idéia pela qual a razão técnica é única. Esta lógica consolidou o capitalismo como forma de produção em escala cujos papeis dos trabalhadores, a partir das entradas das máquinas no esquema de produção, passou a ser fragmentados e alienados. Daí o taylorismo. O modelo exige a disponibilidade permanente de energia e, portanto, um grande domínio sobre a natureza. Neste caso, segundo o autor, a técnica passa a sobrepor a sociedade, quando deveria ser o inverso.
Outra abordagem importante da obra, é que o autor aprofunda a questão da importância do conceito de natureza como conceito-chave em cada cultura. Destaca que na sociedade ocidental desloca o homem do conceito de natureza, passando esta a ser representada por tudo que é inferior ou selvagem, capaz de ser dominada. O perfil dela é branca, européia, machista e burguesa. Estes conceitos tornam naturais as práticas de dominação que se complementa nos casos não resolvidos, os europeus trataram os choques culturais com a escravidão.
Finalmente, num capítulo chamado ecologia, liberdade e igualdade: autonomia; o autor foca o momento atual como de crise em todas as dimensões: econômica, jurídica-política, de valores, normas e culturas. A contradição que gera a cria, segundo o texto, tem origem na falência da perspectiva que os iluministas faziam da razão emancipadora. Em nome da razão ideológica, se oprime e devasta. Portanto, conclui que a razão se perde nas múltiplas dimensões compreendidas a partir da construção-chave do conceito de natureza.
A alternativa proposta pelo autor, a ecologia, propõe mudanças no campo do saber, buscando a integração do viés interdisciplinar com as normas e valores; e o estético cultural. Desta forma passa pela democracia e a política. O autor enfoca que a transformação não pode ser dada apenas pela ciência e a tecnologia têm que refazer as sociedades, os homens e a o conceito de natureza. Para Gonçalves é preciso criar a igualdade no respeito à diversidade.
Diante das posições se observa um olhar da crise ambiental por um viés da construção histórica, social e cultural. Este enfoque sugere uma saída por dentro do mundo da ciência, alargando-o para interdisciplinaridade e o diálogo com a sabedoria popular que está fora dos muros das universidades. Esta perspectiva parece razoável quando consideradas as soluções apresentadas muito mais como novos paradigmas do que propriamente o apontamento de saídas para o quadro caótico que é descrito.
Portanto, se avançar das premissas para a realidade concreta é possível encontrar diversas experiências bem sucedidas que fazem o caminho inverso, corroborando para superação da crise atual por meio de experiências ambientalmente sustentáveis, economicamente viáveis e socialmente justas. Estão espalhadas por todo Brasil, realizadas geralmente por grupos e até em redes que certamente podem dá consistência às novas idéias que se por um lado renovam o campo das idéias por outro não avançam nas buscas e nos exercícios das soluções.
Em suma, sugiro que os interessados e interessadas no debate do Rio Upanema e noutras questões ambientais leiam esta preciosa obra.
* Imagem http://www.img.limao.com.br/
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