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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Mártires do Cunhaú - Saiba mais ...

Os primeiros mártires dos 500 anos do Brasil

* Arquidiocese de Natal

Em 16 de junho de 1645, o pe. André de Soveral e outros 70 fiéis foram cruelmente mortos por mais de 200 soldados holandeses e índios potiguares. Os fiéis participavam da missa dominical, na capela de Nossa Senhora das Cadeias, no Engenho Cunhaú - no município de Canguaretama, localizado na zona agreste do Rio Grande do Norte.

Por seguirem a religião católica, tiveram que pagar com a própria vida o preço da fé , por causa da intolerância calvinista dos invasores. Três meses depois, aconteceu outro martírio, ode 80 pessoas foram mortas por holandeses. Este morticínio aconteceu na comunidade Urucu, em São Gonçalo do Amarante - a 18 km de Natal, litoral do RN.

Processo de beatificação
Segundo o postulador da Causa dos Mártires, Mons. Francisco de Assis Pereira, "a memória dos servos de Deus sacrificados em Cunhaú e Urucu, em 1645, permaneceu viva na alma do povo potiguar que os venera como ínclitos defensores da fé católica" o processo de beatificação, após dez anos de pesquisas, reconhece o martírio de 30 brasileiros, sendo 2 sacerdotes e 28 leigos.

Monsenhor Assis acompanhou o processo de beatificação junto ao Vaticano, por mais de dez anos, reunindo documentos em pesquisas realizadas em Portugal, Holanda e no Brasil. Deste material lançado resultou o livro Protomártires do Brasil, lançado no ano passado. Os mártires de Cunhaú e Uruaçu foram chamados de Protomártires porque são "os primeiros brasileiros que derramaram seu sangue pela fé em nossa terra".

O martírio
Entre 1630 e 1654, a região Nordeste do Brasil, do Ceará até Sergipe, foi ocupada pelos holandeses calvinistas, nos tempos em que as guerras de religião eram tristemente vivas na Europa e conseqüentemente nas colônias. Os holandeses vinham acompanhados por pastores dispostos a converter os índios e a forçar a converção para o calvinismo dos católicos; que se recusava perseguido, ás vezes, até a morte.

Com a chegada dos holandeses a Natal, vários moradores fugiram na esperança de que sobrevivessem reforços da Paraíba e de Pernambuco. Os holandeses os perseguiram e, no dia 14 de dezembro, seis dias após o desembarque em Natal, Mataram Francisco Coelho, sua mulher e seis filhos, e todas as outras pessoas que ali se encontravam, em número de sessenta.

Foi este o primeiro grande morticínio perpetrado, pelos flamengos em solo potiguar. Devido porém, à ausência de motivação religiosa, esta chacina não apresenta as características de um verdadeiro martírio de fé.

Cunhaú
A primeira invasão do engenho de Cunhaú pelos holandeses ocorreu em 1634. Passadas as turbulências que caracterizaram o inicio da ocupação, a vida do engenho parecia ter voltado à normalidade. Ao redor da capela de Nossa Senhora das Candeias viviam 70 modestos colonos com suas famílias, inteiramente dedicados aos seus trabalhos na lavoura e na moagem da cana. Nada indicava qualquer alteração neste ritmo, embora fossem freqüentes as incursões naquelas paragens, de um Jacó Rabe, alemão a serviço dos holandeses sempre liderando soldados e tapuis, semeando por toda parte ódio e destruição. A simples presença de Rabe e dos tupuias já constituía motivo suficiente para suspeitas e temores.

No dia 15 de julho, além dos tapuis, Jacó Rabe trazia consigo alguns potiguares e soldados holandeses, uma vez que se apresentava em missão oficial, dizendo-se portador de uma mensagem do Supremo Conselho Holandês do Recife aos moradores de Cunhaú.
No domingo, 16 de julho, aproveitando a presença de um grande número de colonos na igreja para a missa dominical celebrada pelo pároco pe. André Soveral, Jacó Rabe mandou afixar, nas portas da Igreja, um edital, convocando a todos para ouvirem as Ordens do Supremo Conselho, que seriam dadas após a missa.

Muitos compareceram, mas uma chuva torrencial, providencialmente caída naquela manhã, impediu que o numero fosse maior. Chegou a hora da missa. Os fiéis, em grupos familiares e amigos, se dirigiram à igrejinha de Nossa Senhora das Candeias. Levados apenas pela vontade de cumprir o preceito religioso, evidentemente não portavam armas, proibidas pelas autoridades holandesas, mas só alguns bastões que encostaram nas paredes do pórtico.


O pe. André iniciou a celebração.

Após a elevação da hóstia e cálice, a um sinal Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e começou a matança. Foram cenas de grande atrocidade: os fiéis em oração, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram covardemente atacados com a ajuda dos tapuias e potiguares. Ao perceber que iam ser sacrificados, os fiéis não se rebelaram. Ao contrário, "entre mortais ânsias se confessaram ao sumo sacerdote Jesus Cristo Senhor Nosso, pedindo-lhe cada qual, com grande contradição, o perdão de sua culpa", enquanto o pe. André "exortava-os a bem morrer, rezando apressadamente o oficio da agonia".

O morticínio em Uruaçu
As notícias dos graves e dolorosos acontecimento de Cunhaú se espalharam rapidamente por toda a capitania do Rio Grande e capitanias vivinhas a população ficou assustada e temia novos ataques dos tapuias e potiguares, instigados pelos holandês. Urgia tomar medidas preventivas e defensivas. Mesmo suspeitando conivência das autoridades flamengas nesses ataques, alguns moradores influentes do Rio Grande não tiveram outra alternativa senão recorrer ao comandante de Fortaleza dos Reis Magos, cujo nome tinha sido mudado para Forte Ceulen, para ficarem lá sob proteção militar, não sabendo que a hospitalidade terminaria em tragédia.

"A etapa seguinte de Jacó Rabe foi Potengi, onde 70 moradores estavam refugiados numa cerca de pau-a-pique. Acreditava ele se tratar fácil pois os moradores não tinham como resistir por longo tempo e logo se entregariam. Eles, porém, resistiram heroicamente com as poucas armas à sua disposição: 17 armas de fogo, algumas espingardas, dardos, mosquetes, espadas, e pau tostados....". "Os que não morreram, tentaram resistir... O comandante dos holandeses mandou que se despissem e se ajoelhassem enquanto o pastor calvinista suplicou -lhes que abjurassem a fé católica. A um sinal dado, os índios, que estavam emboscados, saíram do mato e cercaram os indefesos colonos".

Teve inicio, então a carnificina, descrita com impressionante realismo pelos cronistas portugueses. Nas descrições, nota-se claramente o contraste entre a crueldade e a violência dos algozes e a resignação e o perdão das vítimas: "Começaram a dar atrozes tormentos aos homens, e tão desunamos, que já muitos dos que padeciam, tomavam por mercê a morte; mas usaram os holandeses da última crueldade, dilatando a pena, e depois de cansados de darem tão aspérrimos tormentos aos homens, os entregaram aos tapuis e potiguares, que ainda vivos os foram fazendo em pedaços, e nos corpos fizeram tais anatomias que são incríveis; arrancando a uns os olhos e tirando a outros as línguas e cortando as partes verendas e metendo-lhas nas bocas (...)" (Santiago).

Mateus Moreira, um dos mártires, é citado por três cronistas, embora com uma divergência de nome, Mateus ou Matias. A descrição de sua morte é o ponto mais expressivo de toda a narrativa e Uruaçu e constitui um dos mais belos testemunhos de fé na Eucaristia, confessada na hora do martírio. Os algozes arrancaram-lhe o coração pelas costas e ele morreu exclamando: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".

* Reproduzido do documento divulgado pela pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Natal e imagem de www.nossaterranossavida.com

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