*Clayse-Anne
Para fechar este mês de março. Segue um texto escrito pela Professora Nádia Costa, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, sobre o caso lavinia.
Caso Lavínia: o retorno da ultrajada Medeia
Nádia Maria Silveira Costa de Melo
A vida imita a arte? À primeira vista não. Porém, a realidade do cotidiano jornalístico sempre revela o contrário; ela revela que a vida e arte caminham inerentemente juntas. Para citar um exemplo viajemos à Grécia antiga, lá ouviremos uma história de “amor” entre Jasão e Medeia cujo fim é trágico. Lembram desta história? É isso mesmo. Dentre as muitas tragédias gregas, esta é denominada de Medeia, sua personagem principal. Essa figura feminina se apaixona loucamente por Jasão e, para viver esse amor intensamente, abandona seus pais e demais familiares, deixa sua pátria e foge com o amado para Corinto, uma nação desconhecida. Sozinha vive em prol do amante. Porém, o tempo, que tudo cura ou adoece, traz um novo himineu para Jasão e a filha de Creontes e, assim, surge o drama de muitos mortais. Quando Medeia descobre a traição conjugal sente-se ultrajada. Para vingá-lo Medeia traça um plano fatal que envolve seus próprios filhos. Quando Jasão descobre já é tarde, “não há nada a ser feito, a não ser chorar a sua sorte”. Pois, “os seres queridos que gerou, que alimentou, não os verá mais vivos, não lhes falará mais, perdeu-os para sempre!”
Essa foi a manchete estampada nos principais jornais do país nestes idos de março. Como diria Jasão “o monstro, a mulher execrável, que causa horror aos deuses, a mim, a todo gênero humano”, a Medeia atual chama-se Luciene e sua última vítima, Lavína, uma garotinha de apenas seis anos de idade. Foi ela quem pagou com a vida, a traição desenfreada de seu próprio pai, o Rony. Ela iria completar sete aninhos este mês de março, mas a vida de libertinagem e promiscuidade que seu progenitor optou seguir, inviabilizou este aniversário. Lavínia foi seqüestrada pela madrugada e, em seguida, morta covardemente pela amante de seu pai, que arquitetou esse sinistro plano para vingar o abandono que estava sofrendo por parte dele. A criança estava em casa, dormindo no seu quarto, quando o mau foi a sua cama e a abduziu, levando-a para um quarto de um hotel barato. Ali se deu seus últimos momentos de vida. A assassina fugiu e ligou para o amante exigindo resgate. A vida de Lavínia valia R$ 2.000,00. Esse era o preço. Enfim, “o ouro é mais poderoso sobre os mortais que todos os discursos” ratifica-se o antigo discurso grego de Medeia.
A bem da verdade, a infidelidade do pai de Lavínia custou vida da filha inocente. Esse foi o preço do seu himineu extraconjugal. Porém, a pessoa mais afetada parece ter sido a mãe da Lavínia. Além da traição marital, vivenciou a maior das dores: perda da filha. A dor e o vazio irreparável deverá acompanhá-la pela vida. Será que há como remediar isso?
A carrasca assassina, não pode contar com a ajuda de Egeu para fugir, foi para a cadeia – pelo menos é que se espera. O pai traidor deveria ir para um sanatório; a loucura iria aplacar o remorso (se é que há!) de ter sido o pivô que provocou a morte da filha. Lá ele aguardaria “as amargas lágrimas” que estão reservadas para sua velhice.
É assim que terminam as tragédias gregas...porém essa é bem brasileira.
Nádia Costa é professora do Departamento de Letras, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus de Assu e Doutoranda em Linguística pela UFRN.