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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Beto, Letícia e Zuleide. Na foto que fizemos durante a visita a fábrica, 07/06

Beto, um homem simples e importante
* Caramurú

Hoje certamente foi um dia que mobilizou toda Campo Grande. A igreja cheia e a população sentida acompanhando o sepultamento era uma forma de dividir a dor de Fernanda, Letícia, Léo, Sr. Benone, D. Antonia, Neto, Cleoneide e todos os parentes de Beto. Um homem do campo, simples, trabalhador, prestativo, bondoso e um grande sonhador. Apenas 34 anos e uma inexplicável partida.

Conheço Beto desde os tempos de infância, mas certamente o nosso reencontro depois de adultos teve histórias que nos aproximaram muito e fizeram marcas indeléveis nas nossas vidas. Foram acontecimentos profissionais e pessoais definitivamente fortes que nos uniram e integraram nossas famílias de modo a expressar-se em alguns fatos e conquistas pelas quais relatarei a seguir.

Como todo nordestino Beto partiu para São Paulo carregando o sonho de melhorar de vida e construir conforto para o pai e a mãe. Depois da tentativa de uma década, Beto voltou a Campo Grande com algo muito mais valioso. Não trouxe fortuna monetária, mas veio com uma esposa maravilhosa/companheira/leal, dois filhos e o coração inundado da certeza que não existe lugar no mundo melhor para viver e construir felicidade do que a sua terra.

Retomou os estudos e entrou na Associação Comunitária da UNIFAG na certeza que ‘é impossível ser feliz sozinho’ e começou trabalhar e conquistar dezenas de projetos em comunidade, a benefício de todas as famílias do Campo de Aviação. Um belo dia soube da criação de galinha caipira iniciada por Beto de Benone. Fui visitar e me deparei com as idéias diferenciadas daquele sonhador. Ele estava fazendo o manejo reprodutivo e alimentar certinho. Perguntei de onde tinha adquirido tal conhecimento sobre aves. Ele me respondeu que havia lido num livro da “Arca das Letras” existente na associação.

Fiquei encantado com a atitude do agricultor/leitor. No mesmo dia ele me mostrou a produção de produtos de limpeza, elaborada na cozinha da sua casa. O preparo era feito com muito sacrifício, pois os filhos tinham de sair e ele ficava manipulando juntamente com Fernanda. No entanto, as vendas domiciliares e no comércio local iam muito bem. E eu perplexo com a criatividade e determinação de Beto disse que conhecia uma forma de buscarmos recursos para fazer uma mini-fábrica segura, ao lado da sua residência. Ele agarrou a idéia e começamos 3 ou 4 anos de luta.

Neste intervalo, a minha filha Açucena (04 anos) ganhou tamanha afeição por Letícia, filha de Beto, que vez e outra pedia para ir passar uma tarde na residência da amiguinha. Quando a gente pede a ela para listar suas melhores amigas, Açucena diz 3 ou 4. E sempre diz “Letícia”. Em 2008 e agora Beto e Fernanda se inscreveram no projeto de preparação para o vestibular e tivemos contatos ainda mais estreitos. Nos últimos anos já nos encontrávamos periodicamente nas reuniões mensais da sua associação.

Então, veio à liberação dos recursos pelo Governo Federal e a parceria com a prefeitura e o Sertão Verde que viabilizou a construção do seu sonho da Fábrica de Produtos de Limpeza. O prédio tinha sido erguido pela equipe do Charapa com ‘o dedo’ de Beto pelo meio. Combinamos uma visita para ver o resultado de quase 04 anos de esforço e esperança. E exatamente no último dia 07, Beto, eu, Letícia e Zuleide estávamos contemplando a obra num domingo de manhã, 8 horas. Ele estava feliz da vida e me mostrou tudo, disse da estratégia comercial, falou da necessidade de adquirir um reboque para o seu carro, apresentou as adaptações idealizadas e combinamos a inauguração para festa de Santana. Na tarde, desse dia veio o acidente.

Confesso do fundo do meu pouco conhecimento cristão e profunda fé em Deus que não compreendo porque uma pessoa tão boa é tirada tão jovem da nossa companhia. Por isso mesmo venho neste momento partilhar da dor da família e pedir a homens e mulheres mais sábios a devida explicação para momentos tão sofridos como este porque não sai da minha cabeça a frase da bondosa esposa Fernanda: “- Meu Deus, que pecado estou pagando para passar por tanta dor e provação ?”.

Só me consolo na certeza que não existe outro lugar para Beto senão ao lado de nosso senhor. Amém.

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