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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010


A aridez dos meus dezembros!

* Fabiano Régis


Não tem “jingle bells”, “noite feliz”, ou “bom velhinho” que me comova. O motivo da minha aridez é a sanha voraz do capitalismo, que a cada dezembro transforma a singela beleza e profundidade que é o natal, num momento de compra e troca de presentes, despertando nas crianças o instinto consumista. Como eram felizes as noites de natal da minha infância! No terreiro da minha casa, bem pertinho da janela da frente, ficava a minha árvore de natal, um frondoso pé de limão com vaga-lumes num piscar constante. A mesa preparada para a ceia, era de imburana ladeada com bancos de carnaúba, não tinha laços em vermelho e verde, nem luz de candelabro, mas uma toalha branca, novinha, ainda com cheiro de mala e luz de lamparina a encandear. Espalhados sobre a mesa, pratos de ágata brancos, alguns descascados, alguidar, e panelas de barro guardando fartura! E a sua volta uma família feliz! E a ceia? Como era saborosa a minha ceia! Nada de comida com nome estranho: “estrogonofe”, “panetone”, “tender ao molho de damascos” e “chester à califórnia”. Na minha ceia, tinha peru de verdade (criado no chiqueiro de pau-a-pique, para a engorda), farofa torrada, arroz solto e hortaliças do meu quintal!

Terminada a ceia, eu e meus irmãos íamos para o terreiro e sob a luz das estrelas brincávamos até a hora da missa do galo, que começava próximo da meia noite. Seguíamos juntos: Meus pais, eu, e meus irmãos, formando uma pequena procissão. Ao chegar na igreja, logo na entrada, uma breve parada para espiar o presépio feito de caixa de papelão e papel de embrulho, com animais e santos de barro, encenando o nascimento do menino Deus. Durante a celebração enquanto minha mãe rezava, eu dormia em seu colo, devido ao adiantar da hora. De volta pra casa, lavava os pés com água guardada em pote e depois dormia.

Nos meus sonhos nas noites de natal da minha infância não tinham “velhinho de barba branca” com trenó voador puxado por renas, invadindo chaminé para entregar presentes, mas um estábulo, feno, animais, o aniversariante, um carpinteiro e uma grande mãe chamada Maria. Como eram felizes as noites de natal da minha infância!


* Fabiano Régis é músico e radialista

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