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sábado, 30 de julho de 2011

Carlos Jr. (com microfone) adotou CG
Construimos um calendário cultural mínimo e avançamos nos tempos de globalização
* Caramurú

A propriedade de quem viveu é bem maior para tratar de um determinado assunto. E é a partir da minha vivência cultural que comemoro, credito os avanços e aponto neste artigo os novos passos que precisamos dá na consolidação da cultura local.

As considerações aqui feitas partem de uma vivência no final dos anos 80 integrando momentos culturais do Grêmio Estudantil como nas comemorações das datas importantes. Também entra nas minhas observações a experiência gerada de uma efetiva participação na construção coletiva dos grupos teatrais de rua Canal Cultural e Transformação. Acho que ainda me enriqueceu de cultura o curto tempo como aluno de música do professor Ranieri Soares e as tentativas de tocar violão, compor e os dois livros de poesias escritos e artesanalmente publicados.

Vivi tudo isso sem ter a real noção dos efeitos do neoliberalismo e da globalização que naquele momento preenchiam o mundo com um caminho dado como solução dos problemas e sem volta. Nos anos 90 só servia tudo que fosse made in fora, inclusive a cultura de fora. Daqui tudo era tido como sem qualidade, feio e ultrapassado. Lembro bem que era uma grande luta para assegurar apresentações teatrais nos eventos importantes da cidade. Diziam os organizadores que "ninguém gostava de ver" e aos poucos foram conseguindo afastar teatro do show da praça, destroçar os instrumentos musicais por velhice de uso e enfraquecer até extinguir os grupos culturais.

O efeito nocivo não custou a chegar e aquele jovem que não tinha condições de interpretar e se imaginar sendo qualquer personagem que desejasse, passou a encontrar abrigo nos bastidores das drogas e da criminalidade. Neste lugar também se fazem viagens alucinantes, mas com um preço muito mais alto a ser pago.

Por minha formação e pela visão de desenvolvimento endógeno do grupo que fiz militância social e associativa em Campo Grande vivi junto com outros uns momentos duros de resistência contra hegemônica, defendendo a agenda cultural. E não tardou com a queda do neoliberalismo e, por incrível que pareça, o avanço da globalização voltarem a dá importância para os diferenciais que cada região pode oferecer a partir das suas raízes culturais.

Num olhar breve para os últimos 20 anos, destaco três fatos importantes em favor da cultura campograndense. O primeiro foi a firmeza do maestro Ranieri Soares seguir formando músicos. O segundo, a criação da Casa de Cultura. E o terceiro acontecimento veio com o renascimento do grupo Transformação.

Admirador das duas primeiras com pequenas colaborações por lá, tenho acompanhado de perto a volta do teatro com uma nova geração encantadora. Tudo começou num diálogo quando sugeri a Pedro Miau a retomada a partir da montagem da Paixão de Cristo. Daí a conversa foi até Osvaldo Vieira. Fizemos a apresentação e surpreendemente os atores e as atrizes foram ótimos/as e a presença marcante da comunidade calou os opositores que silenciaram e uns até chegaram a fingir integração.

A turma pegou a causa na mão e seguiu crescendo. Quando da aliança política para vencer as eleições municipais de 2008, tive a chance de incluir no Programa de Governo a recomposição do cargo de coordenador de cultura e não disperdicei a oportunidade para propor uma relação de eventos que ajudavam a consolidar o calendário cultural mínimo que hoje temos em Campo Grande: carnaval, paixão de cristo, São João e auto de Natal. O condutor heróico deste processo foi Pedro Miau, mas nem fez sozinho e nem é desfocado de ideologia.

A proposta foi aceita e teve o apoio político e financeiro do prefeito. Este passo deve ser comemorado, mas não tido como o limite. Porque é preciso entender a raiz cultural como parte fundante do desenvolvimento que constitui a educação. A cultura não é algo periférico ou apenas uma gracinha para inglês vê. A cultura é base para se amar a terra onde vive e cultuar com orgulho as suas tradições, criando o novo sem esquecer o passado.

No Brasil está sendo implantado o Plano Nacional de Cultura e o passo de constituição do conselho dado pela Câmara Municipal foi muito importante. É preciso pensar no funcionamento deste ambiente de participação para que a agenda cultural seja gradativamente construída pelos diferentes agentes de cultura e haja condições de se ter um fundo com dotação orçamentária.

Se o sonho faz  parte da arte é preciso alimentá-lo até porque o sucesso dos Filhos de Santana a pouco tempo parecia improvável, o interesse da juventude parecia não haver e o público parecia não gostar. Só parecia.

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