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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Simone Cabral, colunista do GRANDES EM CAMPO
Estréia

"Um homem também chora..."
* Simone Cabral

Desde cedo, o homem aprende a controlar as suas emoções. Aprender a não chorar é uma delas. O choro é uma das principais proibições na educação masculina. Rótulos como: “Homem não chora!” e acusações do tipo: “Prove que você é homem!”, são desafios que o ser masculino enfrenta permanentemente.

A fim de se mostrar para os outros como machão, corajoso, e não ser ridicularizado nem tampouco inferiorizado, caso seja apontado como efeminado ou gay, a todo momento ele tem que provar a sua masculinidade, que se manifesta, principalmente, por atos de violência, principalmente contra às mulheres. Romper com a sensibilidade controlada e a intimidação das suas emoções e sentimentos, sem medo de ser reprimido, é o grande desafio para a construção de uma nova masculinidade, diferente do ideal de masculino dominador da sociedade patriarcal.

Ao longo do tempo, esse padrão de dominação masculina patriarcal tem contribuído para a reprodução de estereótipos do papel secundário e marginal da mulher na sociedade. Esses modelos tradicionais de relações de gênero colocaram as mulheres no papel de frágil e submissa, e os homens de sexo forte, dominador e viril. É o domínio masculino que prevalece no campo do discurso, da linguagem e na determinação das formas de estar e ser mulher.

É um processo de imposição quase irresistível às mulheres, que se fortalece do seu reconhecimento e aceitação. Como diz o Sociólogo Francês Bourdieu em seu livro “A dominação masculina” (2005), é um processo por excelência de subordinação, resultante daquilo que ele chama de violência simbólica. Não uma violência física, mas uma violência subjetiva, suave, invisível às suas próprias vítimas, que é exercida, principalmente, pelas vias simbólicas da comunicação e do conhecimento e pela aceitação por elas mesmas da dominação masculina.

Contudo, a emancipação feminina contribuiu para inverter os valores sociais tradicionais e por em cheque o papel do homem. A ascensão feminina ao espaço público torna-se uma ameaça à identidade de macho dominador e a sua posição de poder hegemônico é posta em questão.

Mas essa desintegração do controle masculino sobre o feminino não é resultante apenas da redefinição do papel da mulher na sociedade atual. Tem a ver também com as transformações históricas ocorridas que põem em questão o mito da masculinidade em razão de uma nova forma de definição de ser homem, pautada em conflitos no âmbito da subjetividade e da intimidade. E para nos ajudar a entender essa nova forma de masculinidade, nada mais expressivo que a música de Gonzaguinha Um homem também chora, quando nos diz: “Um homem também chora menina morena. Também deseja colo, palavras amenas. Precisa de carinho. Precisa de ternura. Precisa de um abraço da própria candura...”

* Simone Cabral é professora da UERN e doutoranda da UFRN

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