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domingo, 20 de fevereiro de 2011


Valdeci - Um calo ... na consciência!
* Blog A Voz de CG

Bora povo desse mundão monstruoso e rutilante de meu Deus. Depois de mais uma parada estratégica no blog (que de estratégica não teve nada), eu volto aqui para lhes trazer mais umas palavras inúteis, porém, em um tom mais leve dessa vez, sem a acidez propositada (ou não) que comumente encontram por aqui.

Baseado erva do capeta na sessão “Grandes Nomes da Nossa História”, do blog CG News, do blogueiro Patrício e no prestimoso preito rendido ao... ao... excêntrico (eufemismo?) seresteiro Márcio Show, pelo meu ex-colegadostemposdecolégio, Pompílio Neto, escrevendo para o “Notícias do Sertão”, eu decidi escrever esse textinho light, com muitas palavras mas poucas calorias, pode experimentar.

Andei pensando e pensei andando também, vagabundeando e fazendo outras coisas do gênero e refleti sobre o quão egocêntrico fui por nunca ter usado este espaço para parabenizar alguém. Não me refiro ao oba-oba dos aniversariantes comedores de bolo (ou de água, mais presente do que bolo nas comemorações dos mancebos de 15 anos em diante na nossa cidade). Antes, me refiro a fazer uma hoMENAGEm a qualquer pessoa que tenha contribuído para a construção da história do nosso município, que tenha dado sua contribuição para enriquecer a nossa cultura ou que tenha lutado arduamente em favor do desenvolvimento das terras que foram habitadas por povos selvagens indígenas de outrora.

Não conhecendo sequer um indivíduo ou ser mitológico que atenda a esses requisitos (pelo menos não pessoalmente, ou com propriedade além dos “abundantes documentos históricos”) eu procurei alguém que estivesse de alguma forma, mesmo que simples e longínqua, inserido no conhecimento e imaginário popular. Alguém que eu conhecesse e que tivesse feito parte em algum instante também da minha breve história.A pessoa de quem falarei hoje não tem nenhum título de nobreza, não realizou grandes feitos e nem participou da “grande” história da cidade, mas com certeza participou da micro história de muitos nela, inclusive da minha.
Desde que eu pus os pés pela primeira vez dentro de um recinto educacional, o extinto colégio Pingo de Gente, lembro daquela figura na hora do intervalo, ou recreio, pra ser mais pueril. Todos os dias, lá vinha ele, um senhor franzino e baixinho de pernas cambaias e canelas tonificadas, graças ao exercício diário da caminhada inerente ao seu trabalho, meticulosamente vestido, quase que como uma armadura característica, com um boné e uma camisa de botão entreaberta, para proteger do calor escaldante que faz na cidade, uma pochete, para armazenar os lucros e dividendos e passar troco, uma bermuda com um tênis, deixando à mostra aquelas canelas e claro, munido dos baldes, trazendo ainda quentinhos os salgados e outros lanches que alimentariam uma horda de trombadinhas famintos e seus adestradores, a que chamamos de professores. Ainda tenho na mente o cheiro gostoso exalado do balde das coxinhas, coberto cuidadosamente por uma fazenda quadriculada com bordado vermelho tricotado ao redor (mentira, era um velho pano de prato encardido pelo óleo dos salgados que eu tenho lembrança, mas que mal faz tornar a lembrança mais bonita, colé, vão me julgar agora?)

Raramente eu comprava algo àquele senhor de nome Valdecir. Minha avó dificilmente me dava dinheiro para comer no colégio, fazia-me levar o lanche de casa numa lancheira horrível com uma garrafinha que sempre deixava o suco quente, isso quando não era leite sem achocolatado. Eu até entendia, apesar de novo estava ciente de que era o melhor que a pobre senhora podia fazer, pois não dispúnhamos de muitos recursos financeiros. Tinha que me contentar com minha bolachinha minguada enquanto os outros alunos, com mais condições, se empanturravam com a oleosidade daquelas frituras tentadoras.

Foi graças a Valdecir que eu ouvi a primeira palavra obscena na minha vida. Não que ele tenha dito, antes, foi ao ouvir um aluno aos berros chamando-o de uma região anatômica nada publicável, se é que me entendem, para anunciar a sua chegada. Um apelido que o deixa irascível facilmente.

Foi também graças a esse apelido que eu deixei de ganhar uns trocados. Relembro agora, para compartilhar com vocês, algo que estava soterrado no cato mais recôndito da minha mente, uma lembrança daquela que foi a minha primeira experiência com o exercício de vender desgastantemente habilidades e aptidões em troca rendimentos miseráveis, atividade que conhecemos por trabalho.

Não recordo bem o ano, mas recordo que assim como Valdecir eu me munia de um balde de pastéis para vendê-los no colégio Sagrado Coração de Família. Os pastéis eram feitos pela mãe de um amigo que estudava comigo, Danillo, filho de Neide de Manoel Cândido. Como lecionava pela manhã no Joaquim Leal, onde eu estudava à tarde, ela não tinha como vender os pastéis. O filho dela não se dispôs a ir e outro amigo, Tadeu de Artemísia, também recusou a proposta que mais tarde eu aceitaria e rapidamente largaria por quase efetivar o apelido oriundo de Valdecir (aquele, da região anatômica nada publicável).

Mas vejam só que ironia, depois de um tempo, minha mãe começou a fornecer as tapiocas que Valdecir vende até hoje. Atualmente, um pouco mais maduro e com outra mentalidade, sem dúvida, eu percebo a tolice de não ter continuado a vender os pastéis por conta dos escárnios dos colegas. Hoje, apenas restou essa estreita lembrança que me aproxima do personagem falado aqui, que em nada perde pra qualquer outra pessoa, pois é essa a lição que fica dessa história, o trabalho, qualquer que seja, desde que íntegro e honesto, só dignifica e engrandece o homem.

* Matéria e foto do Blog A Voz de CG

Um comentário:

Blog do Johan Adonis disse...

Pô cara, adorei o texto. Nostálgico, sarcástico, referente e inteligente.

É muito bom saber que ainda existe (e existirá sempre, se Deus quiser) pessoas inteligentes que saibam escrever!

Valeu!!!