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terça-feira, 22 de junho de 2010


"Se fosse fácil todo mundo era" Zé Ramalho
* Caramurú

O comentário de Heráclito Patrício é mais que pertinente quanto a escolha do artista para o show da Festa de Santana. Aliás, acho que o resultado da pesquisa deve ajudar o prefeito Bibi tomar sua decisão diante de tantas sugestões que estão lhe dando. Eu votei também em Zé Ramalho e falei para o nosso gestor sobre Geraldinho Lins. Sei que Bibi sonha com Flávio José. Todos seriam ótimos. Mas é preciso atender a maioria.

Entretanto, acredito que vindo qualquer nome a via costeira atingirá suas 4 ou 5 mil pessoas. Há quem diga que cantor de MPB não atrai jovens. Então quem pensa assim não viu Zé Ramalho e Fagner em Caraúbas. Até Fevers dos anos 60 deu um bom público. Ou seja, a juventude também aprecia a música mais elaborada.

Tenho feito o debate da cultura. Penso que um povo sem memória e sem cultura é como planta sem raiz. Parece saudosismo mas não dá para esquecer, por exemplo, o surgimento do bloco carnavalesco Fura Barreira e a sua trajetória até a maravilhosa vitória que desbancou o meu querido SOKAI e o tradicional Sokanela. Desfiles dos blocos, carros alegóricos, sambas enredos, o povo na rua assistindo, etc. Isso tudo era em Campo Grande. Com estes bons momentos do passado muitos pessimistas utilizam a frase “a terra do já teve”.

Penso diferente, tivemos algumas coisas boas que podem ser recuperadas, temos novidades e podemos fazer mais.

Tenho me colocado a pensar sobre os motivos que levaram ao desaparecimento ou diminuição de tantas atrações culturais da nossa terra. Falta de recursos não é porque naquele tempo quase todo mundo vivia “liso”. Falta de artistas também não é porque ainda temos Osvaldo Piri, Derocy Araújo, Wilhame de Quildo e tantas outras pessoas geniais na organização de eventos culturais. Falta de vontade da população é outro fator que não podemos atribuir porque muita gente vive rememorando e cobrando o retorno dos grupos teatrais, das festas juninas, etc.

Tenho plena convicção que ao lado da educação e do esporte, a cultura é uma pilastra essencial para o desenvolvimento sustentável de uma nação. Certa vez estava em Janduís assistindo a apresentação do CIRANDUIS e o então vereador Beto do PT chegou ao meu lado e falou bem assim “é lindo, né ? Cultura não enche barriga, mas alimenta as idéias”. Nunca esqueci essa frase. Beto deu uma injeção de frutovena na minha veia.

Um povo que valoriza a sua cultura é uma nação identificada com as suas raízes, apaixonada pela sua terra. Gosta das festividades, da gastronomia e dos hábitos que seus avós faziam e os seus pais e mães lhes ensinaram. Tem prazer e se dispõe a lutar pelo seu território e pelo bem dos vizinhos, pois identificam neles as suas casas e os seus parentes.

A cultura ainda cumpre outro papel importante que é apresentar para “impor” ou “afirmar” um povo e seu território no cenário regional, nacional ou mundial. Vejamos, o exemplo de Mossoró que está conquistando o título de capital do semi-árido, carrega a marca dos vencedores de Lampião, é carimbada como a terra do sal e do sol. Acari é a cidade da educação ambiental, Assu é o lugar dos poetas ou “um pedacinho do céu no meio do mundo”.

Cabe perguntar e o que falta para Campo Grande retomar as suas atividades culturais e inaugurar novos movimentos que dêem expressão regional e orgulho ao seu povo ? . Tenho algumas argumentações. Não sou daqueles que vêem as coisas boas apenas no passado. Precisamos unir as incipientes mas boas ações da Prefeitura Municipal através da Coordenação de Cultura com a força da sociedade civil organizada. Todos podem e todos devem fazer mais.

Para não ser muito longo citarei somente três exemplos. O primeiro é o movimento da juventude do Alto da Esperança que criou o animadíssimo e barato “bloco das quencas” e que vem sendo a atração mais animada do carnaval campograndense. Sem precisar comprar abadá ou qualquer apelação de mercado, os seus integrantes fazem a festa com vestimentas femininas adquiridas mães, namoradas ou das esposas.

A casa da cultura popular de Campo Grande já tornou tradicional a apresentação natalina na frente da sua sede resgatando danças como o pastoril e a encenação do nascimento de Cristo; e formando grupos de flautas doces para tocarem hinos de Luiz Gonzaga e ainda o lindo coral infantil cantando em 05 idiomas. Assisti a recente aprensentação na Fundação José Augusto e presenciei muitos moradores emocionados com as apresentações.

E por aí poderia citar vários exemplos: a festa do Bom Futuro, promovida pelo Núcleo Sertão Verde, o São João do Campo de Aviação organizado pela comunidade, a cultura contemporânea dos blog que começam a divulgar Campo Grande até para o exterior, as tradicionalíssimas bandas de Músicas. Mas os casos citados são suficientes para se tirarmos algumas conclusões.

Diante do que temos constatado em Campo Grande, podemos dizer que
O nosso povo ama a nossa terra. O nosso povo é criativo e tem gente talentosa para recuperar expressões culturais e criar novos movimentos artísticos. O nosso povo já está fazendo muitas coisas boas. O nosso povo adora ver e participar de programações culturais. E temos a novidade de um vereador (Vagner Souza) levantando a bandeira da cultura.

Se temos matéria-prima, gente que gosta e prefeito sensível, uma voz na câmara e muitos motivos para a causa da cultura, não é surreal pensar num dia termos um show de Zé Ramalho ou outro da sua categoria animando a festa de Santana.

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