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terça-feira, 21 de abril de 2009

A DECISÃO DO JOGADOR ADRIANO

Recebi em meu correio eletrônico três textos sobre a decisão do jogador Adriano em deixar o futebol. Gostaria de compartilha-los, pois mais do que retratarem uma prática mercadológica do futebol, tratam-se de reflexões para pensarmos e/ou repensarmos o que estamos fazendo de nossas vidas.

* Simone Cabral

TEXTO 01: O QUE EU VEJO É UM BECO

POR XICO SÁ

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, noves fora qualquer julgamento -que moral tenho para fazê-lo?!-, é tocante essa história do Imperador que busca refúgio e alívio para o desassossego na sua saudosa maloca.Quando o gigante desaba, e desaba na humaníssima frequência das criaturas que não aguentam o tranco das dores do mundo, é lá na Vila Cruzeiro que o cara reencontra o mínimo de eixo.

É na cadeira de lata do bar da favela, como descreve o leitor Marcos Barbosa, que ele acha o bálsamo. Não é na boate da moda na Europa ou no Rio. Que me desculpe, amigo, a comparação barata deste cronista que ama bom populismo à milanesa. É na primeira cerveja esclarecedora e de direito, aquela que limpa os caminhos do filho que à casa torna, que um homem redescobre a razão mínima para estar vivo. Pouco importa se a causa do infortúnio é a dificuldade de lidar com o sucesso, como apontam psicanalistas, ou uma dor de cotovelo digna de letra de Lupicínio Rodrigues.

Nesse momento não adianta afogar no álcool a sua lembrança, como na vingança ridícula da música de Cartola. Não é um trago em qualquer canto, não é um fogo no primeiro bar que encontra aberto, não há fuga possível a não ser na quebrada existencial de sua origem. É lá que abraçamos com força os nossos rancores, é lá que o moreno, por mais bobagens que tenha feito na vida, ganha colo quente e cafunés sinceros que fazem bem ao juízo. Sim, o amigo aí, equilibradíssimo, quase sem defeito de fábrica, homem imaculado, pode achar que se trata de um maluco, de um irresponsável, de um cara que rasga dinheiro.

Você, leitor mais sensível, pode recomendar uma terapia intensa etc., algo para fazer uns ajustes na cabeça do rapaz. Mas nada substitui esse retorno, como um caubói ferido, ao velho rancho. De que vale Milão e todo o seu luxo, de que vale Ferrari, modelos ou o futuro, se o cara está com os olhos embaçados pela fuligem ácida de existência troncha? Como no poema de Manuel Bandeira, "que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco".

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