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quarta-feira, 1 de abril de 2009

A NOVA TOUPEIRA*

Emir Sader

Publico este mês um livro com esse título: A Nova Toupeira, pela Boitempo. Valho-me da coluna para somar forças no combate ao boicote da grande mídia privada ao que não lhe agrada. Condenam ao silêncio que, segundo acreditam, possam impor aos livros críticos. As editorias culturais vieram se somar às de polícia e de economia, como as mais promíscuas da imprensa, em que editores dos órgãos da mídia agradam a diretores de editoras privadas, conseguindo espaços para publicar seus livros. Mas em geral o bloqueio é ideológico mesmo.
Marx e, antes dele, Hegel e até mesmo Shakespeare, usaram o simpático bichinho para falar das turbulências que se prolongam na surdina, embaixo da terra, até reaparecer surpreendentemente na superfície. Da expressão “velha toupeira”, tirei o título do livro, para designar a América Latina de hoje.
No livro ele serve para designar a esquerda latinoamericana, que tem, de novo – tal qual os dois anteriores – um novo século surpreendente. A América Latina passou de “paraíso neoliberal” a “elo mais fraco da cadeia neoliberal”, de uma década a outra. Justamente por ter sido o berço do neoliberalismo e a região onde ele mais se alastrou, vivemos uma ressaca do neoliberalismo,em que convive a maior
quantidade de governos progressistas na história do continente.
Mas qual a natureza do período que vivemos? De que maneira se combinam fatores tão negativos, em escala global, como a passagem de um mundo bipolar a um mundo unipolar, e de um modelo hegemônico regulador a um modelo neoliberal e as forças antineoliberais, concentradas na América Latina?
São essas as condições que o livro analisa, pretendendo ajudar a compreender o Brasil de hoje, a América Latina de hoje, o mundo de hoje, na perspectiva da sua transformação em um mundo mais humano, solidário, democrático nos planos social, econômico, cultural e político.
Publicar um livro não é apenas definir um tema, desenvolver as análises, encontrar a melhor forma de expor as idéias, encontrar um editor etc. É também batalhar pelo que se escreve, por aquilo em que acreditamos, pelas ideias e propostas contidas no livro. É parte integrante do livro fazê-lo chegar aos que se interessam pelos problemas abordados, buscar resenhas, participar de lançamentos, de debates. Em suma, superar o bloqueio do silêncio com que se tenta afogar o pensamento crítico e as ideias que buscam “outro mundo possível”.
Espero que todos os que trilham este mesmo caminho – como se refere Galeano na apresentação do livro – o leiam, para incorporar o que possa vir a ter de bom, criticar, debater – a fim de que a nossa nova toupeira irrompa em cada vez mais territórios e de forma cada vez definitiva.

*Artigo publicado na revista Caros Amigos edição 143/fevereiro 2009

Postado por Simone Cabral

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