Todas as vezes que viajo sempre digo que farei um diário de bordo. Aliás, isso deveria ser um item obrigatório para todos nós. A memória é importante, mas os registros marcam com mais propriedade um tempo e um espaço vividos. Assim, antes que as minhas lembranças sejam traídas pelo esquecimento lento e inevitável, descreverei as minhas apreensões e recordações da viagem à Itália, que, compartilharei por entender que há diversas formas, jeitos e modos de troca de aprendizagens e saberes. Viajar e abstrair o que há de produtivo e criativo nisso, é um deles.
Pois bem, Ana e eu fomos a Florença (região da Toscana), Pisa, Roma e Veneza, belíssimas cidades italianas. Por lá ficamos entre os dias 10 e 23 de maio de 2010. O motivo: participar de um evento em Florença sobre Juventude e Direitos Humanos, em que pudemos divulgar ações nessa área desenvolvidas pela UERN e o Coletivo Quan An. Dentre os projetos, apresentamos propostas a serem desenvolvidas no Território do Mato Grande pelo Coletivo Quan An, bem como as já desenvolvidas ou, em desenvolvimento, pela UERN: O Cursinho Abrindo Caminhos (Campo Grande-RN) e o Projeto de Formação Política e Cidadã para Jovens, que em outra ocasião, neste blog, eu já me reportei. No momento, estamos aguardando possibilidades de financiamentos futuros da cooperação internacional italiana de apoio ao Brasil, Guatemala e Peru.
Vamos, então, às minhas apreensões sobre essas cidades.
Florença (Firenze) é cercada e movida por arte e história renascentista. Lá pudemos visitar o Museu da Academia, onde está exposto a obra-prima de Michel Ângelo (Michelângelo), O Davi, e o Museu do Ofício (Uffizi), que dentre as centenas de obras, estão A Primavera e O Nascimento de Vênus de Sandro Botticelli e Anunciação de Leonardo da Vinci.
A cidade é um museu a céu aberto. As ruas, quase sempre estreitas, encanta pelos casarões e igrejas de arquitetura renascentista. A igreja do Duomo e Santa Croce conservam pinturas e monumentos de grandes artistas florentinos. Um passeio pela cidade e pudemos imaginar como era a vida social e política no período renascentista quando andamos pela Praça da Senhoria (Piazza della Signoria) e Palácio Velho (Palazzo Vecchio). Um vista panorâmica da cidade, nós tivemos quando fomos à Praça de Michelangelo (Piazza de Michel Ângelo). Quanto às comidas e bebidas, é claro que não deixamos de apreciar as massas (pastas), sorvetes e vinhos italianos. São muitos os tipos e formas de preparo das massas, mas o que mais gostei foi com a mistura de cogumelos. Uma delícia! Os vinhos, estes não dá pra falar. Apesar de quase não beber, em meio aquele frio, eu não pude deixar de apreciar o gosto particular dos vinhos italianos.
Próximo à Florença fica a cidade de Pisa. Fomos, então, conhecer a sua famosa Torre inclinada. Logo que chegamos pensei que poderia vê-la de algum ponto da cidade, assim como é possível vermos o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, por exemplo. Para minha surpresa, a Torre nem é tão alta assim, tampouco está localizada em lugar mais estratégico em favor da sua visibilidade. Medindo aproximadamente 60 metros de altura, a Torre é um dos três monumentos que compõe a Praça dos Milagres (Piazza de Miracoli), os outros dois são a Catedral e o Batistério. Ao invés de andares, ela tem anelos.
Com mais coragem do que fôlego, subimos os sete anelos, cuja escadaria, com 280 degraus e projetada em círculos, escura e estreita, dava-se a sensação de um caracol. Os quatro primeiros anelos, a escadaria é dentro da Torre, os três últimos, por fora. Subi sem contemplar a vista do alto. Mas acho que já foi muito para quem tem medo de altura como eu. Só não consegui subir no cume da Torre onde estava o sino principal. Contentei-me com a visão dos sinos secundários.
Voltamos para Florença e de lá seguimos para Roma. Na viagem de trem, impossível não contemplar as belas paisagens campestres da Toscana, além de ruínas de casarões e castelos medievais. Roma é grandiosa, histórica e bela. Ficamos apenas dois dias. Mas no roteiro não poderia deixar de ter o Coliseu, o Foro Romano, a Fonte de Trevi, o Panteão e parte do Vaticano (Museu, Capela Sistina e a Basílica de São Pedro).
O Foro Romano, lugar onde desenvolvia-se a vida pública de Roma, hoje é um conjunto de monumentos, cujas ruínas está o Coliseu, um retorno ao tempo de gladiadores, de imperadores, czares.
A Fonte de Trevi e seu animador encanto das águas é uma obra arquitetônica esplêndida, em pleno centro de Roma. Suas esculturas impressionam pela exuberância e excentricidade.
Quando pensei que já tinha visto tudo de mais grandioso, enganei-me quando visitamos o Museu do Vaticano. Impossível ver tudo em um dia. Até chegar a Capela Sistina, centenas de esculturas por todos os cantos e lados, pinturas belíssimas, tapetes majestosos, mapas antiguíssimos etc etc. Na Capela há uma preciosa pinacoteca da pintura renascentista italiana, que segue uma série bíblica contemplando episódios do velho e do novo testamento. No centro, dentre tantas outras pinturas de Miguel Ângelo, a Criação do Homem. Foi mágico, fascinante e inesquecível essa experiência.
Em seguida, fomos visitar a Basílica de São Pedro. Pena termos chegado pouco depois de audiência pública do Papa, como assim é a chamado as suas aparições/pregações na Praça de São Pedro. Entrei na Basílica após uma longa e, aparentemente, interminável fila. Nada se compara aos enormes e majestosos altares e monumentos da Basílica, sob luzes reluzentes de ouro e do aspecto fúnebre dos arquétipos sacros. A Pietá, escultura de Miguel Ângelo, representada pela figura da Madona segurado em seus braços o corpo de Jesus Cristo, foi pra mim, o que há de mais puro e belo da representação do amor materno.
Assim como a chegada na Itália, o retorno foi por Veneza. Bela e excêntrica a cidade de Veneza inspira romantismo. Nos restaurantes e nas ruas há sempre velas e flores. Passando por inúmeras pontes, as ruas estreitas e desordenadas formam um labirinto desbravadas por longas caminhadas. Do contrário, só o passeio de gôndola, é a alternativa irresistível a esta cidade cercada por canais. Tirando o fato de Ana e eu sermos confundidas como “um casal”, o que nos rendeu boas risadas, primeiro, pelo fato de Simone ser um nome masculino na Itália (confusão nos hotéis na reserva de quarto para casal e não duplo), segundo, por andarmos sempre juntas, a estada em Veneza nos motivou o desejo de retornar, desta vez, acompanhada com par romântico.
Finalmente, após todos esses dias em lugares que reúnem fascínio, arte e história, o retorno para casa é sempre renovado e motivado pelo encantamento com a beleza do mundo e pelo desejo incansável do seu desbravamento.
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