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sábado, 23 de abril de 2011


Brasileirão do Tempo na RECORDação: 219 anos depois...


Nádia Maria Silveira Costa de Melo

21 de abril é o dia do enforcado em todo o Brasileirão do Tempo. Se pararmos para uma reflexão, veremos que é sinistro comemorar o dia do assassinato de alguém. Ainda mais quando a comemoração parte do próprio autor do delito: o povo brasileiro, representado por uma insana. O assassino ainda é premiado com um dia de feriado. Um dia em que poucos lembram o porquê da folga e, cada um segue ao seu lazer e divertimento. Mas é assim que ocorre na alegórica nação do Brasileirão do Tempo.

Você sabe a que enforcado estamos nos referindo? Afinal, foram tantos por esse mundão. Para tanto, vamos nos debruçar no relato histórico de Brasileirão, tragamos à baila dois enforcados inocentes. Um que rogou praga ao seu povo e o outro que virou herói nacional. O primeiro refere-se ao último enforcado do Brasileirão do Tempo, o Sr. Motoca Coco. Ao que se sabe, antes de ser executado, ele teve direito a um último pedido, presente concedido pelo juiz da sentença.  O réu nada pediu, apenas afirmou ser inocente e, curiosamente, perdoou a todos pela injustiça que estavam cometendo. Apesar da cessão de perdão aos seus algozes, proferiu uma maldição sobre a cidade do Brasileirão. Maldição guardada a sete chaves pelo Sr do Silêncio. Tempos depois da execução, Dom Pedrito 2ª descobriu que havia condenado um inocente, com isso, extinguiu a pena de morte de seu reinado.

Porém, a história veio a se repetir: outro patriota foi “pego para Cristo”. Desta vez, o enforcado ficou conhecido nacionalmente como o Sr Arranca Dentes. O crime atribuído a ele era sonhar demais...sonhar e ir em busca da realização do sonho:  ver seu país livre de qualquer opressão. Não era apenas ele que sonhava com isso, além dele havia outros chamados inconfidentes, porém dentre eles o mais humilde era o Sr Arranca Dentes. E assim ratificando o ditado popular a “corda arrebenta do lado mais fraco”, a ele apenas foi atribuído o crime de “libertas quae sera tamen”. Assim o rapaz ganhou um colar de cordas. Contrariamente, após o sinistro ato, o povo que o condenou concedeu-lhe honras e título de herói, talvez, uma tentativa de aplacar o remorso por ter levado à morte um homem cujo crime foi idealizar. Assim, em sua homenagem ergueram praças e mais praças com o nome Enforcado. De modo que há em todas as vilas e aldeias da grande nação muitas praças Arranca Dentes.

É nessas praças pelo mundo a fora que ocorrem todos os movimentos importantes: inaugurações das mais simples às mais exóticas. O povo, presença maciça nesses eventos, vão em busca de “panes e circus” (hoje mais circo que pão) sem ter consciência de que naquela praça há uma simbolização de um povo que vive com a corda no pescoço. Esse povo constitui os atuais habitantes daquele país que vivem sufocados por seus representantes no Governo. Assim, com a corda no pescoço caminham para uma morte lenta ignorando que são os atuais enforcados. Se pararem diante de um espelho verão a corda que carregam: salário mínimo, serviços precários na área da saúde, da educação, de transportes, da infraestrutura...  Mas em casa de enforcado, não falemos em corda.
             
Para uns, Brasileirão é só mais uma novela da vida. Para outros, uma vida de novelas vivenciadas por uma nação sem memória e sem crítica.

Imagem ilustrativa: larissacarla.blogspot.com

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