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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Paixão de Cristo 2011: 5a. Edição
Cultura do Teatro: O que quer e o que pode esta gente ?
* Caramurú

"Flor do Lácio, sambódromo
Lusa América Latina em pó
O que quer ? O que pode esta língua ?"
Caetano Veloso

A cultura do 'modernês' neo liberal jogou sua poeira e chegou em C. Grande no início da década de 90. Entre outras expressões concretas, surrou  a cultura esvaziando movimentos rebeldes como o teatro. "É muito chato e expulsa o povo do show da praça", era este o discurso conservador local.

O argumento justificou o não investimento em som, figurino e luz; e o resultado almejado foi conseguido, ou seja, retiraram o incômodo das encenações que retratavam e caricaturavam as hipocrisias que perpetuavam as desigualdades sociais galopantes em cima dos lombos da ganância, do poder político e das convenções 'sugeridas' por quem tem a decisão. E por um longo período ninguém ouviu jovens teatralizando músicas como:

"Isso tudo acontecendo
E eu aqui na praça
Dando milho aos pombos (...)"
Zé Geraldo


Acontece que veio o efeito inverso. Diz o adágio popular que mente vazia é morada do Satanás. Os jovens, sem as oportunidades educativas lúdicas trazidas pelo teatro e  o esporte, migraram suas energias para outras descobertas boas e más. Dentre as ruins, vieram uso de drogas, alcoolismo, roubos e violência.

Lógico que a solução apresentada pelas pessoas que ajudaram a comprometer os destinos dos jovens quando tiraram o direito a cultura,  foram também medidas autoritárias:

"(...) Leva este moleque pra longe
Interna este menino sem ninguém
Na rua ele atrapalha as pessoas
Melhor é interná-lo na FEBEM (...)"
Pe. Zezinho

Mas é bíblico a frase que diz "você colhe o que planta". E violência nunca solucionou violência. Se fosse assim o armamento bélico norteamericano teria pacificado o mundo. Da mesma forma, sem prevenir, o remédio da prisão foi insuficiente para promover um destino cidadão para nossa juventude. A sorte é que existem os sonhadores com as suas utopias ...

"(...) Uma flor nasceu na rua!

Vomitar esse tédio sobre a cidade. (...)"
Carlos Drummond de Andrade


... E resurge em Campo Grande a tradição do teatro que vem de longe com as peças de Zé de Cândida, passando pelas encenações do grupo de Zuleide Araújo e Jacinta Vieira, vindo pelo grupo teatral Canal Cultural, caminhando na primeira geração do teatro Transformação até chegar a renovação de 2007.

Neste ano conversei com Pedro Miau e Osvaldo Vieira sobre a volta do teatro que tanto colaborou na formação cidadã de nossa geração. Daí veio a feliz idéia do recomeço pela Paixão de Cristo ao Ar Livre. Deste percurso de cinco anos, a apresentação de 2011 coroou a caminhada consolidando mais uma agenda cultural e a quebra do preconceito de que o povo interiorano não gosta de teatro.

O público deve ter chegado perto de um milheiro de homens e mulheres do povo que vieram ver seus filhos e filhas, parentes ou conhecid@s interpretando a história mais importante dos cristãos. Como bem resumiu Osvaldo "foi bom ser do tamanho que foi porque não podemos regredir em 2012. É daqui para melhor".

"Vem vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer (...)"
Geraldo Vandré

A música acima é um antigo acalanto esquerdista, mas ainda serve para traduzir o empenho de mais de um mês de trabalho de rapazes e moças para fazerem duas horas de apresentação.

A conclusão deste texto que celebra o avanço do teatro em Campo Grande precisa ter um registro político um olhar para o futuro. Na dimensão política, faço presente o compromisso que nosso mandato de  vice prefeito tem com a causa da cultura, presente, divulgando e apoiando no que me é possível ser feito.

Com muito orgulho conto que a pauta da cultura compôs os pontos prioritários da nossa negociação na construção de temas para o Governo Municipal quando discutimos a aliança com Bibi de Nenca e o grupo do PMDB. Dissemos da necessidade de consolidar um calendário anual mínimo para as celebrações culturais e solicitamos a revalorização da coordenação de cultura, inclusive, soliciando a indicação do titular do cargo para alguém com o nível de compromisso como Pedro Miau, cujo trabalho criou o caminho para a consolidação da Paixão de Cristo, a ampliação da agenda junina e o auto de Natal.

O prefeito Bibi de Nenca por sua vez realizou um importante investimento na Paixão de Cristo, desde quando assuimiu em 2009. E feliz do gestor que entende a importância de entregar um patrimônio imaterial para o seu povo.

Evidente que precisamos celebrar este momento com a cautela de olhar para o muito que ainda falta ser feito em termos da cultura de Campo Grande, a exemplo do potencial que temos na música e no turismo religioso e ecológico. No entanto, realiza o coração de quem crê nas múltiplas formas de educação, na medida em que se transformam em reais sonhos que pareciam impossíveis.

  

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